A AGÊNCIA PORTUGUESA DE REVISTAS
   
UM TEMPO DE LIVRINHOS (1962-1968)
 





por João Manuel Mimoso

 

 

Mil novecentos e sessenta e um tinha sido o annus horribilis do Portugal de então. Começara com o desvio do Santa Maria (Janeiro), continuara com os primeiros ataques terroristas no Norte de Angola (Março) e a ocupação do Forte de S. João Batista de Ajudá (Agosto). Mas em Dezembro todos pareciam decididos a aproveitar a época para esquecer as preocupações. A Baixa de Lisboa resplandecia com as ainda recentes iluminações natalícias; as lojas prometiam brinquedos, doces e outros prazeres mais adultos. Ao passar por quiosques e tabacarias os miúdos tentavam interessar os pais na compra do Mundo de Aventuras 638 (2$00), d'O Pato Donald 526 (2$50), do Mickey 110 (3$50) ou, no caso de pais com possibilidade de maiores generosidades, do Almanaque de Superman para 1962 de cuja capa verde o Super Homem sorria para as crianças ao preço de 12$50. Então, a uma semana do Natal, a União Indiana invadiu o Estado Português da Índia e a tristeza e o luto caíram sobre todo o País que sentia a perda da jóia da coroa colonial como o sopro inelutável de um vento contrário. Portugal acordou para a realidade de ser uma potência de terceira classe que outros podiam calcar impunemente e o País, nunca alegre por natureza, tornou-se nesse Inverno algo mais triste. Foi neste contexto global depressivo, que se aprofundaria durante os anos seguintes, que se desenrola o período da vida da Agência Portuguesa de Revistas que agora vou tentar historiar.

   
           
 

Um relance que fosse feito no início da década de 1960 à história editorial da Agência conduziria à conclusão de que os seus maiores sucessos se situavam num segmento de preço baixo ou médio-baixo: o Condor Popular e o Ciclone custavam 1$00; a Crónica Feminina 1$50 (posteriormente 1$80); o Mundo de Aventuras 2$00; e a Plateia, que foi o título mais caro a conhecer um sucesso sustentado, custava 3$00 mas tinha sido tradicionalmente quinzenal enquanto as restantes três eram semanais.

Foi a este segmento que se destinou a colecção Cowboy, lançada a 1 de Novembro de 1961, composta por "livrinhos" (este termo era usado pela própria Agência) publicados semanalmente contendo uma história com 64 páginas de texto no formato 12,5 x 8,5 cm, ao preço de 1$50. O seu sucesso quase imediato sugeriu uma quantidade de follow-ups, outras publicações no mesmo formato e ao mesmo preço, de que a primeira seria a colecção Açucena, romântica, lançada em Maio de 1963 (o Nº1 está ilustado à esquerda). Esta colecção contou durante muitos números com excelentes capas e ilustrações interiores de Carlos Alberto Santos.

   
           
 

Seguiram-se a colecção 6 Balas (cowboys), cujo primeiro número apareceu em Novembro de 1963, e Fúria de Bravos, o terceiro título do mesmo género e com o mesmo formato e preço, que começou a ser publicado a 3 de Dezembro de 1965.

A 1 de Julho de 1966 foi lançada a colecção romântica Sereia que, tal como Açucena, tinha capa e ilustrações interiores de Carlos Alberto Santos.

Todos estes títulos incluíam na contracapa a reprodução de um cromo de uma das colecções da Agência. Cowboys publicou inicialmente os cromos da História de Portugal; Açucena os da Bela Adormecida e 6 Balas os da Cleópatra. Algumas das colecções cujos cromos foram assim reproduzidos eram recentes mas a sua distribuição tinha já terminado ou estava a terminar.

   
       
 

Supostamente estes pseudo-cromos teriam como objectivo possibilitar o completamento de colecções deixadas inacabadas. Mas isso não sucedeu (talvez pela maior gramagem do papel e pela cor e brilho diversos dos originais) excepto de forma limitada com Fúria de Bravos que publicou nas contracapas os cromos da História de Lisboa (o verso do primeiro número está ilustrado à esquerda) cuja posterior raridade conduziu a que se encontrem por vezes colecções de cromos integrando ilustrações recortadas dos livrinhos.

Eventualmente os responsáveis da Agência devem ter reconhecido que os "cromos" não eram utilizados. Então viram neles uma forma de publicidade, incentivando o desejo de coleccionar, e por isso Sereia publicou nas contracapas os cromos da colecção Camões que então estava a ser lançada.

   
         
 

Em Janeiro de 1967 surgiria ainda a Colecção Gatilho (de que a capa do Nº1 está reproduzida à esquerda), também com histórias do faroeste no mesmo formato. Esta reproduzia nas contracapas cromos da História de Portugal, como fizera Cowboys vários anos antes (nesta época Cowboys publicava os cromos de Bambi).

Durante Outubro e Novembro de 1966 todos estes livrinhos que tinham invadido as tabacarias e os lares portugueses incluiam no interior a seguinte comunicação "Aos nossos estimados leitores: não obstante a nossa melhor boa vontade, somos forçados por imperativo dos constantes aumentos que vimos a suportar há tempos, a alterar o preço desta publicação (para) 1$80"... sinal da inflação já esquecida há mais de trinta anos e que veio deprimir ainda mais a segunda metade da década de 60. Um ano mais tarde o preço iria ser de novo aumentado para 2$00...

   
         
 

O sucesso do binário formato/preço dos livrinhos levou Mário de Aguiar a tentar expandir a ideia com o lançamento, no final da década, de uma colecção de pequenos romances em banda desenhada com o nome Chiquitina (indicação segura da origem espanhola da colecção), com as já habituais 64 páginas mas agora no formato 10,5X 7,5 cm ao preço de 2$00 que era o praticado nessa época em todas as colecções de livrinhos. Na contracapa tinha um cromo da colecção Segredos do Mundo Animal. Apesar de parecer uma boa ideia a colecção não teve venda e o título foi descontinuado ao fim de algumas poucas semanas, conhecendo-se apenas oito números.

Posteriormente seria feita uma última tentativa de publicação de uma colecção de livrinhos de banda desenhada com o nome improvável de O Preço do Triunfo, que tinha na contracapa cromos da colecção contemporânea Romeu e Julieta, mas que também foi efémero e é hoje raríssimo.

   
         
 
Quatro dos cromos de Navios e Navegadores desenhados por Carlos Alberto Santos.
 

Na Primavera de 1962 a Agência Portuguesa de Revistas lançou uma colecção de cromos originária da espanhola Editorial Rollan que seria a sua última colecção estrangeira de grande êxito e que tem hoje um estatuto quase mítico. Tratava-se de Navios e Navegadores e uma das preocupações das crianças de então (algumas com 30 ou 40 anos de idade) era encontrar uma das esgotadíssimas cadernetas cuja segunda edição tardou muito a sair. Eu fui um desses miúdos e ainda hoje me perpassa uma sensação agradável quando passo pela tabacaria de Alfama onde finalmente encontrei um exemplar da almejada caderneta.

A colecção era composta por 267 cromos dos quais 12 foram, tal como a capa, desenhados em Portugal por Carlos Alberto Santos. Navios e Navegadores é globalmente de grande qualidade e encerra um mistério: a colecção original nunca foi reportada em Espanha e dela só se conhece uma reedição de 1966, com apenas 220 cromos. Só a edição portuguesa comprova que deve ter havido uma edição espanhola anterior, que teria originalmente 255 ou mais cromos.

   

 

 

   
 

Mas se o período não teve mais êxitos no cromo importado, testemunhou, por outro lado, um grande incremento nas colecções nacionais. Entre estas é de notar a extraordinária Camões, desenhada por Carlos Alberto Santos (extraordinária pela qualidade e detalhe dos guaches- imagem à esquerda- que uma impressão defeituosa não deixa mais que entrever nos cromos).

Nos anos 50 as grandes colecções de cromos da Agência tinham um tempo de vida superior a um ano, sobrepondo-se largamente entre si. Nos anos 60, no entanto, a concorrência com a Íbis resultava no lançamento de colecções sucessivas com vida cada vez mais curta, para oferecer ao mercado constantes novidades. Em Março de 1964 foi posta à venda Bambi, em Abril do mesmo ano Clubes Nacionais de Futebol, em Setembro Campeões Nacionais de Todas as Modalidades, em Outubro A Queda do Império Romano, em Dezembro Heróis Lendários e da Hstória...

   
           
 

Face a esta situação os responsáveis da Agência tiveram a ideia de publicar uma colecção de colecções de cromos (a que chamaram Colecção Ecléctica) propondo-se lançar trimestralmente um novo álbum. Tal como o próprio nome indica, os albuns integrados na Colecção não tinham afinidades (nem sequer de formato!) e acabaram por não ter uma periodicidade absoluta, alternando meses em que chegavam a ser lançadas duas colecções de cromos com trimestres em que não era lançada nenhuma. Mesmo assim a Colecção Ecléctica durou cerca de cinco anos a partir de Março de 1967.

O primeiro número da Colecção (História de Portugal) não foi auspicioso uma vez que se tratava apenas de mais uma reedição em formato quadrado da famosa colecção de 1953 mas a generalidade dos mais de 20 albuns foram originais destacando-se os Nºs 3 (Touros, Toureiros e Toureio), 6 (Figuras e Monumentos Nacionais) e 12 (Romeu e Julieta) desenhadas em Portugal e o Nº11 (História e Técnica do Futebol) parcialmente desenhada em Portugal. Algumas destas colecções tiveram uma vida curta e são hoje muito raras, como as já citadas 3, 11 e 12 e também a Nº7 (Bonanza). Mas a Colecção Ecléctica representou uma época na vida da Agência Portuguesa de Revistas enquanto editora de cromos, durante a qual se superiorizou claramente à Ibis após quase uma década de hegemonia da segunda à custa das grandes colecções da Bruguera.

   
           
 

Foi no campo do Espectáculo que surgiu um dos três títulos memoráveis publicados nesta época (e é curioso que tenham sido apenas três em seis anos quando um anterior período de igual duração tivera tantos mais). Tratou-se de Álbum da Canção, cujo primeiro número (dedicado a António Calvário) saíu no dia 1 de Março de 1963. Tratava-se de um potpourri de dados biográficos, fotografias, letras de música, entrevistas, etc, referentes a determinado artista que constitui hoje uma valiosa fonte de informação.

Este primeiro número teve um notável sucesso que justificou várias edições de que a terceira, com capa diferente e conteúdo revisto, saíu em Fevereiro de 1964 quando já tinham saído onze outros números da revista, focando artistas como a simpatiquíssima e fotogénica Maria de Lurdes Resende (a quem, por qualquer razão que nunca entendi, chamavam "feia"), Simone de Oliveira, Alfredo Marceneiro, Mara Abrantes, etc...

   
         
 

As capas de muitos dos primeiros números de Álbum da Canção eram da autoria de Américo Táboas que, com grande sentido gráfico, compôs imagens do rosto dos artistas com áreas coloridas contendo o lettering, obtendo um resultado final de belo efeito que deve ter contribuído para o sucesso inicial da publicação.

Mas o nosso panorama artístico não tinha nomes sonantes que pudessem manter o interesse durante um período prolongado. O Nº 13 de Álbum da Canção, sobre Madalena Iglésias, encerra a fase da revista que inclui praticamente todos os cançonetistas nacionais com relevância na época e interesse intemporal. Seguiram-se, com poucas excepções, artistas nacionais de menor relevância e artistas estrangeiros. As capas passaram a ser ilustradas com fotografias. Mesmo assim o título perdurou até ao Nº 67 de Setembro de 1968 tendo até originado, em 1967, uma espécie de spin-off com o mesmo formato: a revista Ídolos que, em cada número, divulgava a biografia de artistas em geral pouco conhecidos, desportistas, figuras da televisão e afins.

   
           
 

Entretanto, e enquanto se continuava a publicar a Plateia com a nova periodicidade semanal, uma outra revista digna de menção tinha surgido por reformulação de um título já antigo, sofrido vários facelifts e desaparecido. Tratava-se da velha revista Colecção Cinema que a partir do Nº1 da Série 27 (publicado a 18 de Setembro de 1963) passou a incluir notícias do mundo do espectáculo a par com o resumo de um filme em texto e fotografia. As capas eram, tal como as da Plateia, ilustradas pela fotografia de um artista, em geral estrangeiro ou nacional de grande relevo nessa época.

Esta "nova orientação da Colecção Cinema", como lhe chamavam os editores, foi preparada por uma campanha de várias semanas na Crónica Feminina baseada em declarações de responsáveis da editora, primeiro, e artistas, depois, que afirmavam que esta nova revista era necessária e de grande valor para os leitores.

   
           
 

O new look inicial durou apenas dez números, após os quais os editores resolveram que os resumos de filmes eram uma perda de espaço útil e deram à revista um novíssimo look, transformando-a numa espécie de Plateia mais barata e para um público mais interessado na vida pessoal do António Calvário do que no próximo filme do Peter O'Toole.

Ao todo a "nova orientação" durou cerca de três anos até Junho de 1966, altura em que deu origem a um novo título: Pop Cine.

A Colecção Cinema esteve suspensa durante um ano mas reapareceu em 1967 com a chamada "3ª Série" que, inexplicavelmente, retomava o formato original que tinha sido abandonado em 1963 por falta de vendas e que, previsivelmente e por maioria de razão, também não vingou agora num país onde quem tinha dinheiro para comprar a revista já podia, também, ir a um cinema nas imediações.

   
           
 

Pop Cine dava continuação aos conteúdos da 2ª Série da Colecção Cinema incluindo a colaboração de António Calvário que agora contava "episódios inéditos da (sua) vida" (sic) mas com melhor impressão e no formato 20,5 X 14 cm ao preço de 2$00. Os primeiros números incluíam lamentáveis ensaios fotográficos com pseudo starlettes portuguesas em bikini mas após um período de sedimentação de conteúdos a revista melhorou, tornando-se ainda hoje interessante ler alguns artigos sobre o meio artístico nacional.

Nas várias tentativas feitas para adaptar a "nova orientação" da Colecção Cinema ao mercado incluíu-se a inclusão de uma fotonovela de continuação protagonizada por artistas conhecidos na época, solução- aliás- já utilizada na Plateia. Em Abril de 1967 a Agência lançou a colecção de grandes dimensões Foto Romances Corín Tellado cujo único conteúdo eram fotonovelas de origem espanhola compradas à Bruguera que voltava a entender-se com a Agência num posicionamento pragmático face à incapacidade da Íbis em colocar no mercado português a totalidade das produções vendáveis da editora catalã. Na sequência deste entendimento a Crónica Feminina passou, também, a publicar telenovelas de Corín Tellado e a editar, como separatas, fotonovelas nacionais a cores. Posteriormente (em 1969) a Agência lançaria a Colecção Célia (com três fotonovelas de produção própria por 3$50).

   
           
 

Referi atrás que, na minha opinião, tinha havido apenas três novas publicações realmente notáveis neste período, sendo uma delas o Álbum da Canção. A segunda foi uma grande novidade no campo da banda desenhada: a colecção mensal Guerra de que o primeiro número foi publicado em Março de 1963, completando com Policial e Espaço o trio de revistas mensais de temática especializada. Seria, também, a mais durável já que as outras duas foram descontinuadas em 1966.

Em finais de 1966 a oferta da Agência em termos de banda desenhada estava limitada ao Mundo de Aventuras, Condor Popular e Ciclone, semanais, e ainda Selecções e Guerra, ambas mensais. As revistas Tigre e Salgari (mensais) e Águia (quinzenal) tinham já sido canceladas há vários anos após um periodo em que todas foram publicadas no formato da Tigre. A raridade actual das últimas séries demonstra o pouco sucesso destes títulos.

   
           
 

Em 1967 a oferta no campo da banda desenhada foi reformulada com o início da publicação de dois novos títulos: a Colecção Xerife e Aventuras do FBI, ambas com o formato 16,5 X 12,0 cm ao preço de 2$50. Ambos os títulos seriam duráveis.

A terceira nova publicação que considero de interesse no periodo foi a quase desconhecida Colecção Miniatura, constituída por condensações de clássicos da literatura mundial editados no formato 11,5 X 8,0 cm com cerca de 60 ilustrações de José Batista. O Nº1 (Os Fidalgos da Casa Mourisca) saíu em 1968, seguindo-se-lhe títulos como As Pupilas do Senhor Reitor, A Morgadinha dos Canaviais, Uma Família Inglesa, Oliver Twist, e outros. Estavam previstos 16 volumes de que pelo menos 13 foram dados à estampa até 1969. Todos os volumes são muito raros o que aconselha a recolha e preservação dos que sejam encontrados.

   
           
 

Mas a vida das ilustrações de José Batista não tinha terminado. Quatro anos mais tarde Mário de Aguiar teve a ideia de as transformar em colecções de cromos de um tipo único em Portugal: a caderneta continha um resumo do livro de que os cromos constituíam as ilustrações. Chegaram a ser publicadas e postas à venda as colecções Oliver Twist e Os Fidalgos da Casa Mourisca, mas a saída de Mário de Aguiar em 1973 levou ao cancelamento do projecto quando O Coronel Chabert já estava pronto para distribuição e os cromos de Nossa Senhora de Paris estavam já em ensaio de impressão. As ilustrações de vários outros títulos, incluindo Noventa e Três de Vitor Hugo, tinham sido coloridas por José Batista com vista à publicação de outras tantas novas colecções que, afinal, nunca o seriam. Mas as que chegaram a ser postas à venda integram o grupo das mais inovadoras e raras colecções de cromos portuguesas.

   
           
 

Além do formato dos "livrinhos" houve um segundo formato, já antigo, que teve grande divulgação nesta época. Trata-se do utilizado na revista Plateia (24,0 X 16,5 cm) e na Mamãs e Bébés (entretanto transformada numa revista-figurino com interesse quase nulo) que seria também utilizado no Álbum da Canção, na revista Ídolos, na nova Arte e Decoração (um spin-off da Crónica Feminina equivalente ao seu suplemento de decoração; inicialmente publicado como número único em Agosto de 1965 passou posteriormente a revista trimestral com numeração sequencial), nos suplementos de culinária e de beleza da Crónica Feminina a partir de 1964, e em todos os suplementos da Plateia e números especiais sobre temas desportivos, cinema e outros.

Entre estes são de salientar os números únicos dedicados ao Benfica (Mário de Aguiar era um benfiquista ferrenho), aos seus jogos e vitórias, e aos seus jogadores- todos são hoje peças de colecção.

   
     
   
 

Em relação a publicações infantis, Mário de Aguiar deslocou-se aos Estados Unidos para visitar a Walt Disney, com quem assinou um contrato. Posteriormente um executivo da empresa esteve em Lisboa, tendo sido assinado um contrato específico para a edição da Branca de Neve em cromos com imagens do filme de animação do mesmo nome (a colecção seria posta à venda no Natal de 1965).

Quanto ao contrato assinado na Califórnia, parece ter-se apenas materializado nalgumas publicações individuais sobre filmes da Walt Disney e na Colecção Mini-Livro de que foram publicados oito números com personagens da Walt Disney e, posteriormente, mais sete números com "os peixinhos congelados da televisão" (sic)- personagens de um anúncio ao peixe congelado emitido na RTP e que (calcule-se!!) teve um inesperado sucesso junto das crianças. Os mini-livros com personagens da Walt Disney podem ter sido desenhados em Portugal, já que a empresa costumava autorizar a utilização dos seus personagens em histórias desenhadas nos países de publicação.

   
           
 

Ao chegar a 1968, e comparando a situação com a de 1962, reconhece-se que a Agência tem uma carteira de publicações menor, sem que isso constitua um sinal de decadência. Na verdade, a queda da ambição editorial no período tratado, que provocou um emagrecimento por concentração nas publicações mais rendáveis e sugeriu o título deste artigo, é uma avisada medida de saneamento económico em tempos difíceis. A redução de novos lançamentos tentativos seria preocupante se fosse permanente, mas não foi: os anos 70 testemunharam o surgimento de muitas iniciativas editoriais, em particular nos campos da banda desenhada e do espectáculo- velhos suportes da empresa- e no da intervenção política, após o 25 de Abril, de que a Revista do Povo é, talvez, o título mais memorável.

Durante o período que agora historiei a Agência perdeu a colaboração de Milai Bensabat que em Março de 1966 se despediu para iniciar um projecto novo na Íbis- diz-se que Mário de Aguiar chorou esta perda- mas também se assistiu à ascensão de um jovem entusiástico e capaz, chamado Vitoriano Rosa, que um dia viria a ser um dos dirigentes da Agência e que lhe foi de valor incalculável no período conturbado do PREC. Homem de esquerda, várias vezes preso pela PIDE, a sua credibilidade política permitiu à empresa atravessar os anos após a revolução sem problemas de maior para além de algumas greves de pouca duração e das consideráveis perdas incorridas com o abandono das sucursais em África. A sua visão permitiu, por outro lado, a edição de um conjunto de publicações de sucesso (revistas e livros) sintonizadas com a época e a Agência teve, nos anos 70, importantes surtos de inovação e muitos títulos de notável sucesso.

Mário de Aguiar já não foi actor no período pós-revolucionário, tendo vendido a sua quota em 1973. A partir de finais dos anos 70 a Agência passou por várias direcções, reestruturações, cisões, altos e baixos, até à sua liquidação (a falência foi decretada a 7 de Abril de 1988) mas nessa altura já a actividade editorial tinha terminado há cerca de um ano. O seu título mais antigo, o Mundo de Aventuras, morreu com a grande editora quando as máquinas deixaram de rodar, o papel de correr e a tinta de fluir.

Com o tempo, as publicações antigas vão voltando ao pó que foi a sua matéria prima e os heróis da banda desenhada ao Mundo da Fantasia, onde moram os mitos. Nesse mundo vive hoje, também, a memória da que um dia foi a maior fábrica de sonhos portuguesa.

   

João Manuel Mimoso
           
2007- Julho- 01
   
     

Post Scriptum: Em Barcelona, a Bruguera, multinacional da banda desenhada e do cromo com cujos destinos os da Agência tinham estado, um dia, quase inextricavelmente ligados, também colapsou, sendo adquirida pelo Grupo Zeta e extinta em 1986, alguns meses antes da editora portuguesa.

No Brasil a Ebal, colosso da banda desenhada desse vasto País e muito difundida em Portugal desde os anos 40, foi sendo "desligada" durante a década de 1980, publicando as últimas edições no início da década de 1990.

Em todos os casos tratou-se de mais uma infausta consequência da substituição da leitura pelos audio-visuais a que as grandes editoras baseadas na banda desenhada têm tanto mais dificuldade em se adaptar quanto maiores as tiragens a que as suas publicações são rendáveis.

   
AGRADECIMENTOS





         
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