Os Lusíadas de Luís de Camões

ilustrados por Carlos Alberto Santos

Canto I, estâncias 36-38

O Consílio dos Deuses- início da fala de Marte.

36-
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Mas Marte, que da Deusa sustentava
entre todas as partes em porfia,
ou porque o amor antigo o obrigava,
ou porque a gente forte o merecia,
de entre os Deuses em pé se levantava
(merencório no gesto parecia)
o forte escudo, ao colo pendurado,
deitando para trás, medonho e irado.
que da deusa sustentava- que a deusa apoiava;
partes em porfia- opiniões em disputa;
porque o amor antigo o obrigava- referência à antiga paixão de Marte por Vénus;
merencório- o mesmo que "melancólico";
gesto- semblante.
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A viseira do elmo de diamante
alevantando um pouco, mui seguro,
por dar seu parecer se pôs diante
de Júpiter, armado, forte e duro.
E dando ua pancada penetrante
co conto do bastão no sólio puro,
o Céu tremeu, e Apolo, de torvado,
um pouco a luz perdeu, como enfiado.
sólio- trono;
Apolo um pouco a luz perdeu- Apolo conduzia o carro do Sol e, portanto, simboliza-o.
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E disse assi: –"Ó Padre, a cujo império
tudo aquilo obedece que criaste:
se esta gente que busca outro hemisfério,
cuja valia e obras tanto amaste,
não queres que padeçam vitupério,
como há já tanto tempo que ordenaste,
não ouças mais, pois és juiz direito,
razões de quem parece que é suspeito."
a cujo império- a cuja vontade;
vitupério- desonra, grande humilhação;
juiz direito- justo;
razões de quem parece que é suspeito- argumentos de quem não é independente (lança sobre Baco a suspeita de ser parte interessada na perdição dos navegadores que buscam a Índia).
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