MENSAGEM de Fernando Pessoa; Terceira Parte- O ENCOBERTO
Terceiro- OS TEMPOS
Quarto- ANTEMANHÃ
.ouvir Óleo de Carlos Alberto Santos
ANTEMANHÃ
O mostrengo que está no fim do mar
Veio das trevas a procurar
A madrugada do novo dia,
Do novo dia sem acabar;
E disse, «Quem é que dorme a lembrar
Que desvendou o Segundo Mundo,
Nem o Terceiro quere desvendar?»

 

E o som na treva de elle rodar
Faz mau o somno, triste o sonhar.
Rodou e foi-se o mostrengo servo
Que seu senhor veio aqui buscar,
Que veio aqui seu senhor chamar –
Chamar Aquelle que está dormindo
E foi outrora Senhor do Mar.

 

 

Comentários:

"a madrugada do novo dia, do novo dia sem acabar"- a alvorada do Quinto Império (que será eterno).

"desvendou o Segundo Mundo, nem o Terceiro quer desvendar"- referência à Segunda Epístola de S.Pedro onde o apóstolo divide os Tempos em três: o Primeiro Mundo, que durou desde a Criação até ao Dilúvio; o Segundo Mundo, em que vivemos, que durará até à segunda vinda de Cristo- que supostamente reinará por mil anos- e o Terceiro Mundo que se segue e que perdurará eternamente e é, nesta alegoria, confundido com o Quinto Império.

"Aquele que está dormindo e foi outrora Senhor do Mar"- D.Sebastião ou Portugal, que nesta acepção se confundem.

Face a "O Mostrengo" de Mar Português conclui-se que Pessoa quer de novo simbolizar o medo do desconhecido, agora não do mar ignoto, mas da via para o Quinto Império na qual Portugal ainda não se lançara (está dormindo). No entanto o mostrengo que um dia foi soberano é agora servo de Portugal (o medo já não será nosso, mas de outros) que procura, debalde, para o início do caminho. O nome deste poema indica que está a chegar a hora, "a madrugada do novo dia".

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Lisboa, Portugal. Dez 20, 2003; revisto Mar 09, 2004
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João Manuel Mimoso
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NOTA: Para uma discussão do simbolismo deste poema inserido no conjunto d'Os Tempos ver a minha introdução a "O Encoberto".

English version

An introduction to the poem: The Bogey-beast of Portuguese Sea returns, again to symbolize the fear of the Unknown. Maybe it comes to instill in the hearts of men fear for the Fifth Empire (the new day that will last forever) but the monster no longer rules because its realm was unraveled by the Explorers of Old. So the monster, now reduced to serfdom, comes to seek his master that was once Lord of the Sea and is now sleeping (a reference to Portugal or King Sebastian who, in this sense, are equivalent). But Portugal who unraveled the Second World ( that in which we live- this is a reference to the Three Worlds of the Second Epistle of St. Peter) sleeps on and does not show signs of willing to show the way to the Fifth Empire (which Pessoa likens here to the Third World of St. Peter's Epistle). So the monster flies away again...

Before Dawn

The bogey-beast that lives at the end of the sea
Came from the darkness to seek
The dawning of the new day,
Of the new day that will last forever.
And said, "Who is he who sleeps remembering
That he has unraveled the Second World
But does not want to unveil the Third?".

 

And the sound of his turning in the dark
Makes the sleep bad, sad the dreaming.
Turned and flew away the monster-serf
That came here to seek his master,
That came here his master to call -
To call the One who lies in sleep
And who was once Lord of the Sea.