MENSAGEM de Fernando Pessoa- Primeira parte: BRAZÃO
II- OS CASTELLOS 
Segundo- VIRIATO 
..Ouça aqui o poema (para estudantes de português) Óleo de Carlos Alberto Santos
VIRIATO
Se a alma que sente e faz conhece
Só porque lembra o que esqueceu,
Vivemos, raça, porque houvesse
Memória em nós do instincto teu.

 

Nação porque reincarnaste,
Povo porque ressuscitou
Ou tu, ou o de que eras a haste-
Assim se Portugal formou.

 

Teu ser é como aquella fria
Luz que precede a madrugada,
E é já o ir a haver o dia
Na antemanhã, confuso nada.

Comentários:

"Se a alma... etc"- a nação portuguesa representa, segundo Pessoa, a memória colectiva do instinto de identidade e independência personificado por Viriato.

"povo porque ressuscitou (...) o de que eras a haste"- somos um povo porque renasceu (após a presença romana, nórdica e islâmica) o espírito nacional de que Viriato foi a origem.

Fernando Pessoa tem uma predilecção pelo uso, literal ou simbólico, do termo "antemanhã", isto é, o periodo antes do alvorecer quando começa a despontar uma luz muito ténue. Aqui o poeta compara Viriato à antemanhã da nacionalidade portuguesa.

.Ouça aqui o poema (para estudantes de português) .
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Lisboa, Portugal. Agosto 29, 2003
 
Revisto Janeiro 13, 2004
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João Manuel Mimoso
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NOTA: Os Lusitanos eram um povo de raiz indo-europeia (ariana). Diversos historiadores consideram os Lusitanos um povo do ramo celta da família indo-europeia. Os Celtas ocuparam uma grande parte da Peninsula Ibérica, tendo mantido uma certa identidade na faixa oeste da Peninsula (num território correspondente actualmente à Galiza e a Portugal) e misturando-se com povos anteriores não-arianos (os Iberos) no centro e sul da Peninsula.

O local de nascimento de Viriato não é conhecido, embora a tradição consagre o maciço da Serra da Estrela. Mas não é impossível que tenha nascido no que é hoje território espanhol, já que esse maciço montanhoso se prolonga para além da fronteira portuguesa. Pouco importa, já que todos os povos ibéricos compartilham o passado e o presente, tal como necessariamante compartilharão o futuro.

Como chefe militar foi um excelente táctico tendo obtido retumbantes vitórias sobre os romanos. Os interessados podem ler AQUI um resumo biográfico de Viriato (em espanhol). Do resumo reconhecerão que a generalidade da sua actividade como comandante militar ocorreu em Espanha, cobrindo um território tão extenso que leva a crer que tenha travado uma guerra com uma visão estratégica alargada, usando o que é hoje território português como último refúgio para onde recuaria face às adversidades no campo militar. Por isso, os nossos amigos espanhóis o consideram justificadamente como um herói da sua própria nacionalidade.


English version

An introduction to the poem: The Lusitanians were an Indo-European tribe (possibly of Celtic origin) that lived in what is today Portugal and adjacent parts of Spain. During the I century BC they opposed the Roman Invasion of the Peninsula. Headed by Viriathus they held the Romans long in check mostly by guerrilla warfare. In this poem Pessoa traces the ancestry of the Portuguese nation to the instinct of Viriathus for independence and asserts that we exist as a nation because there lives in us a memory of that instinct.

Viriathus:

If the soul, that feels and acts, knows
Simply because it remembers what it forgot,
Then we, nation, live because within us
There is a memory of your instinct.

 

Nation, because you reincarnated,
People, because you were reborn,
Either you, or that of which you were the stem,
And thus was Portugal born.

 

Your being is like that cold
Light that precedes dawn,
And is the assurance of the day to be
Before daylight, obscure nothingness.